Meus alunos, que tinham 9 anos de idade, apresentaram dificuldades nas relações interpessoais, demonstrando
intolerância, falta de respeito, praticando bullying com os colegas… atitudes que não eram legais de ser ver. Também demonstravam não gostar de produzir textos, então decidi criar um diário coletivo para que eles aprendessem a trabalhar em grupo, pois eles teriam que se organizar para a escrita acontecer , assim eu conseguiria trabalhar habilidades socioemocionais aliadas ao conteúdo de Língua Portuguesa e desenvolver a escrita e suas habilidades de forma significativa e lúdica.
Criei a “caneta das possibilidades” para que eles se permitissem mudar, acreditassem que
era possível olhar os acontecimentos de uma forma positiva. Essa caneta, que foi criada para modificar nosso olhar, nos dando
a possibilidade de ver o lado bom das coisas, ensinando às crianças que tudo que nos acontece é aprendizado e que devemos ser gratos, foi um sucesso entre os alunos. Eles embarcaram na aventura da escrita com a caneta mágica.
A prática do Diário da Gratidão fez com que os alunos tivessem um cuidado com a escrita que não tinham antes. Ficaram atentos ao uso correto dos sinais de pontuação e à escrita correta das palavras. Consegui trabalhar os conteúdos necessários colocando o aprendizado em prática na escrita do diário. Além disso, consegui mediar os conflitos durante o processo que permeou o desenvolvimento do trabalho, conseguindo com algumas problematizações, fazer com que os alunos começassem a valorizar tudo que nos acontece, mostrando
que mesmo quando coisas que não gostamos surgem, devemos ser gratos pelo aprendizado nos dão. Por ser um diário coletivo, o respeito às diferentes opiniões e também a colaboração foram questões fundamentais trabalhadas. Os estudantes foram conduzidos a refletirem sobre suas atitudes, qualificando um processo rico de engajamento, aprimorando diálogos e abrindo caminhos para uma participação ativa.
Atividades desenvolvidas no Projeto:
O Diário era colocado em cima da minha mesa no início da aula. Sempre dava o exemplo e pegava o diário para escrever o meu agradecimento. O aluno que sentisse vontade
de escrever, pegava o diário e escrevia e assim que terminava seu agradecimento, ele passava para o colega ao lado. Todos sempre queriam escrever no diário.
No início, acontecia um pequeno tumulto, pois ainda estavam se acostumando e se organizando, criando autonomia; depois de um tempo os alunos conseguiram construir uma organização e a escrita passou a acontecer naturalmente durante as aulas.
O diário extrapolou os muros da escola. Quando os pais ficaram sabendo da prática, pediram para participar também. Então, algumas vezes o diário ia para a casa de algum estudante para que a família pudesse escrever seu agradecimento também. No dia seguinte voltava cheio de afeto e muitas histórias, fortalecendo vínculos e criando oportunidades de interação muito significativas.
Em seis meses de projeto, nós já tínhamos dois diários cheios de gratidão. Os alunos
melhoraram o vocabulário, os erros ortográficos diminuíram, as relações interpessoais melhoraram e os estudantes modificaram seu olhar com relação à escrita, pois com o diário eles perceberam que escrever pode ser prazeroso e significativo. Os agradecimentos aconteciam durante a aula de forma tranquila e espontânea. Acho muito gratificante ver esse movimento acontecendo. Em um ano, escrevemos em quatro diários, exercendo a escrita de forma significativa e potente, trabalhando a colaboração, empatia, respeito e gratidão. Nesse ano, devido à pandemia, nosso diário foi adaptado para o contexto virtual, e a cada mês vamos construindo intervenções e concretizando ideias para que o projeto continue.
